Como se sabe, a AJURPE apresentou no passado dia 20 de Dezembro o seu Espectáculo de Teatro. O sucesso alcançado foi de tal monta que muitos foram os pedidos para reedição do trabalho apresentado. No entanto, alguns "Velhos do Restelo" que, ou por não terem sido alvo nas peças apresentadas, ou por serem sempre do contra, opuseram-se ao teor satírico demonstrado no espectáculo. Acho que, enquanto presidente dessa promissora Associação Juvenil, tenho o dever de aclarar alguns conceitos e ideias para melhor percepção dos nossos queridos "Velhos". Então, começo por dizer que o Teatro, mesmo sendo executado de uma forma extremamente amadora, como foi o caso, conhece as suas origens no grande dramaturgo que foi Gil Vicente. Com uma refinadíssima comicidade, esse senhor caracterizou a sociedade portuguesa do séc. XVI, através de personagens que foram ganhando vida ao longo do seu vastíssimo e reconhecido cunho teatral. Quem não se lembra do Auto da Índia, do Auto da Fé, do Auto da Barca do Inferno, entre outros. Convém abrir um parenteses para dizer que, a corte portuguesa pagava a Gil Vicente a sua própria caracterização satírica, ou seja, já na altura os portugueses gostavam da subtileza do teatro crítico.
Portanto, o Teatro de Revista ou se quisermos Teatro Social é isso mesmo - representar de uma forma satírico-saudável as vivências sociais de um povo, de uma sociedade. Assim, o criticar de costumes e hábitos nunca tem a intenção de punir e/ou castigar algo ou alguém, apenas se pretende rir daquilo que é normal mas que, de uma forma banal é negligenciado por uma larga maioria de pessoas. Então, só se sentem atingidos com os factos narrados e representados aqueles que, de uma forma snobe e hipócrita se tentam sobreelevar em muitos níveis ao comum da essência humana. Acho que o nosso quotidiano já é por si só demasiado penoso para muitas pessoas, o que quer dizer que tudo o que faça rir uma pessoa triste é sempre bem-vindo.
Carlos Estrela